Na terça-feira, São José Almeida e Maria José Oliveira escrevem no Público, “Canção dos Xutos transformada em manifesto contra Sócrates”.
Quarenta milhões podem perder emprego este ano no mundo diz um título do Público. Mas o texto explica que No quadro mais grave, o número de desempregados subiria para 230 milhões, mais 40 milhões do que os 190 milhões das estimativas existentes para 2008.
Estamos perante o erro da moda, confundir entradas (ou saídas) com o saldo de entradas e saídas. A acreditar no texto (a experiência mostra que é normalmente no título que está o erro) o saldo entre as pessoas que entram e que saem do desemprego serão 40 milhões este ano. Como haverá certamente muitos milhões que arranjarão emprego este ano, conclui-se que o número de pessoas que vão perder o emprego será muito maior do que os 40 milhões que o título dá a entender.
Há que ser justo: a confusão entre percentagem e ponto percentual tem sido menos frequente nos últimos tempos. Era erro habitual ler "percentagem" quando o correcto seria "ponto percentual" (como nos fartámos de escrever aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Exemplo: a taxa de inflação subiu 2 por cento, de 1 para 3 por cento. A taxa de inflação é ela própria uma variável expressa em percentagem, pelo que uma variação absoluta tem de ser expressa em pontos percentuais. Doutra forma, estaríamos a falar de uma variação relativa (no exemplo acima, um crescimento de 2 por cento significaria uma subida de 1 por cento para apenas 1.02 por cento).
O Público comete hoje a proeza de, pela primeira vez desde que reparo nestas coisas, (ab)usar erradamente (d)o ponto percentual: "Os funcionários públicos poderão vir a beneficiar de um aumento real do poder de compra em 1,9 pontos percentuais". Era tão simples usar ali uma percentagem, porque foi a jornalista complicar?
Sindicato garante que adesão à greve do pessoal de manutenção da TAP é superior a cem por cento.
Digamos que não é todos os dias que isto acontece!
No Público de hoje, o inacreditável. Lemos num título, e pasmamos, que "já não precisamos de recorrer ao crédito para nos endividarmos". E eu pergunto: mas que tipo de endividamento é que não implica recurso a crédito? Não será "endividamento", por definição, recurso a crédito?
Por momentos ainda pensei que pudesse estar a ser utilizada uma definição de "crédito" muito restrita, englobando apenas crédito bancário, por exemplo, mas excluindo outros tipo de crédito, como, por exemplo, o de tipo dívida de mercearia (que não deixa de ser crédito). Mas não. Reparem só no primeiro parágrafo da notícia: "Não conseguem pagar as despesas domésticas, os seguros, a creche ou a escola dos filhos, o condomínio ou a renda da casa, a conta na farmácia ou no supermercado do bairro. Não têm dívidas de crédito à habitação, automóvel, pessoal ou de qualquer outro tipo. São a nova classe de sobreendividados".
Ou seja, na cabeça de Ana Rita Faria, estes indivíduos têm a incrível capacidade de se "sobreendividarem" sem terem "dividas de qualquer tipo". Isto de um gajo se endividar---aliás, sobreendividar---sem se endividar é uma daquelas injustiças que deviam ser proibidas por lei. Ou isso ou proibir os jornalistas de atropelarem desta forma os conceitos lógicos mais elementares.
Numa capa bem ao estilo do Público, lê-se hoje: "Receitas dos casinos caem pela primeira vez nos últimos 20 anos". Mas, no corpo do texto, por pressão da sua própria consciência, a jornalista Sara Felizardo lá confessa: "nunca os casinos nacionais conheceram uma diminuição tão expressiva das suas receitas como a que estão a enfrentar desde o início de Outubro, exceptuando o período compreendido entre 2003 e 2004, onde se registou uma pequena quebra (...)". Ou seja, mais uma vez, uma capa e um título que mentem com a dentição completa.
O problema com títulos e notícias simplistas (incorrectas?) é que, muito provavelmente, elas geram na população comentários e raciocínios ainda mais simplistas, passando assim ao lado da oportunidade de darem a perceber a realidade que nos rodeia e de educarem.
Dar como título à noticia sobre a demissão do primeiro-ministro tailandês, após um tribunal ter concluído que podia haver conflito de interesses, "Primeiro-ministro da Tailândia é demitido por apresentar programa de culinária na televisão", como faz hoje o Público, é passar ao lado do fundamental.
No Público de hoje, mais um exemplo a provar que não são as restrições sobre o espaço reservado aos títulos que justificam certas opções. No título desta notícia, sobre os resultados do estudo "Education at a Glance", reza que "Portugal é o país da UE que menos tempo dedica à língua e à Matemática". Ao ler-se o artigo, fica-se com a sensação de que se puxou a corda.
Parece que afinal a coisa só se refere ao 2o ciclo (5o e 6o anos), e, criticamente, apenas em relação "à língua". Isto, porque, como escreve a jornalista, "no 3o ciclo (7o, 8o, e 9o anos) apenas a Holanda apresenta uma percentagem de carga horária inferior", e, no 2o ciclo, "as escolas irlandesas dedicam tanto tempo à disciplina [Matemática] como as portuguesas".
Mais, o texto refere apenas a proporção de horas dedicadas às 2 disciplinas. Logo, não é necessariamente verdade que, mesmo no tempo dedicado "à lingua" (em termos absolutos), sejamos os últimos. Aliás, é referido que no 2o ciclo o número de horas obrigatórias dos alunos portugueses é mais elevado do que a média.
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