Hoje no DN toma-se erradamente a parte pelo todo, ao fazer-se capa, título, e notícia com o seguinte:
"(...) há 1,33 milhões de pessoas que trabalham ao domingo, o que corresponde a 25% da população empregada - ou seja, um em cada quatro portugueses passa parte do domingo a trabalhar."
OU SEJA, um em cada quatro trabalhadores portugueses e não um em cada quatro portugueses. Distracção?
Na capa de hoje no DN: "Oliveira e Costa detido por burla agravada, fraude fiscal e branqueamento de capitais".
Esta falta de rigor promove uma má cultura popular face às matérias judiciais. Goste-se ou não de banqueiros, e deste em particular, e tenham ou não os banqueiros, e este em particular, especial inclinação para mexer em dinheiro, até pronunciação de uma sentença por um tribunal, uma pessoa detida é-o por recair sobre ela uma suspeita (a menos que haja flagrante delito).
À custa de um drama privado e de uma boa história, não deixa mesmo assim de ter piada que desta vez parece ter havido espaço de sobra para espetar na capa uma sequência de três crimes, e palavras tão compridas quanto "branqueamento". "suspeita de" tem de ficar para outra capa.
Rui Peres Jorge, no Jornal de Negócios de hoje, comete a(s) seguinte(s) afronta(s):
1. Não indica uma única fonte para sustentar o que escreve. Ora, face à gravidade do que sugere, não lhe passa pela cabeça revelar ao menos onde foi buscar tal "furo"?
2. No título escreve 30%, mas inicia o texto com 27%. Em termos proporcionais pode parecer uma diferença negligenciável, mas o que conta é a que dizem respeito aquelas proporções. Isto é, milhares de empregos.
3. Segundo dados do INE, disponíveis numa questão de segundos a qualquer cidadão através da Internet, aos quais Rui Peres Jorge não faz qualquer menção (nem a quaisquer outros), foram criados 133 700 empregos desde o 1º trimestre de 2005 ao 2º trimestre de 2008. Assim, os tais 27% dos 130 000 empregos que refere o jornalista, representam 26,25% do total de empregos efectivamente criados, cada vez mais longe do que é anunciado no título.
4. Não sou a pessoa mais qualificada para analisar se é possível que os dados oficiais contabilizem o emprego da forma que sugere o jornalista (talvez portugueses que se mantenham como residentes em Portugal, mas que efectivamente não o sejam?), mas parece-me que isto não passa de um grave disparate.
Nota (a posteriori): Como, infelizmente, não tenho acesso à notícia que foi publicada no jornal em formato papel, na qual, supostamente, se explica melhor a questão, resta-me pedir desculpa, pelo menos em parte, ao jornalista Rui Peres Jorge. Em parte, porque considero absurdo que nos dias de hoje, em que a Internet funciona como o meio exclusivo de acesso à informação para tantas pessoas (veja-se o decréscimo nas vendas de jornais impressos), um jornal não tenha cuidado com as notícias que publica online. Sendo que parte dessa responsabilidade deva, na minha opinião, caber ao jornalista que assina a notícia. É que quem quer que dê de caras com aquela notícia no site do Jornal de Negócios não pode senão ficar perplexo e muito preocupado. Foi o que me aconteceu.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, o número de licenciados desempregados em Portugal aumentou em 167.000.
Esta notícia vem na primeira página do Diário Económico, e é citada em todos os telejornais da SIC.
Diz a senhora locutora da SIC:
“O crescimento do desemprego nos licenciados desde que se iniciou a governação Sócrates põe em causa o modelo de crescimento baseado nas novas tecnologias como motor para resolver os problemas do mercado de trabalho”.
Em entrevista dada àquela estação televisiva, Martim Avillez Figueiredo, director do Dário Economico, esclareceu (às 18:25 H), que as perdas de emprego estão a ocorrer nas áreas das ciências humanas - professores, psicólogos, sociólogos, etc - onde de facto o número de licenciados desempregados aumentou. Mas refere ele, que nas áreas tecnológicas, pelo contrário, o número de licenciados não chega para satisfazer a procura. Portanto em bom rigor, não devemos estranhar estes números, antes considerá-los como inevitabilidades de uma adaptação estrutural da economia.
Disse ele!
Está explicado?
Talvez para alguns, porque nos noticiários seguintes da SIC (22.00h) a afirmação que se faz é exactamente a mesma dos noticiários anteriores: “O crescimento do desemprego nos licenciados desde que se iniciou a governação Sócrates põe em causa o modelo de crescimento baseado nas novas tecnologias pois não está a ser capaz de resolver os problemas do mercado de trabalho”
O senhor Dr Martim Avillez Figueiredo teve tanto trabalho a explicar e vocês não perceberam?
A falta de rigor
Diz assim o primeiro parágrafo do Código Deontológico dos Jornalistas:
O jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade
No entanto, na prática, o relato factual nem sempre é feito com rigor. Mesmo nos jornais de referência.
Reparem neste título do Publico (Domingo, 23 de Setembro)
NOVO CÓDIGO VAI DIFICULTAR COMBATE AO CRIME VIOLENTO.
O novo Código do Processo Penal define prazos demasiado curtos para a investigação da criminalidade organizada, diz Cândida Almeida.
Neste artigo, transcreve-se a entrevista dada ao PUBLICO e RÁDIO RENASCENÇA pela directora do Departamento Central de Investigação de Acção Penal (DCIAP).
Lendo toda a entrevista, não vejo que a entrevistada tenha feito uma declaração tão simplista como a que serve de título. Aceito contudo, que sub-liminarmente, a entrevistada tenha manifestado essa opinião.
O que me parece estranho, é que essa opinião é manifestada pela entrevistada de forma despropositada.
Pergunta: “Qual é a consequência da publicidade para os inquéritos?”
Resposta: “Na pequena criminalidade não há problema. Ofensas corporais não exigem segredos de justiça, um acidente de viação, um cheque sem cobertura, também não. Mas na criminalidade organizada e violenta, não é possível cumprir esses prazos que são demasiado curtos.”
Mais à frente:
Pergunta: “Portanto na sua opinião, a publicidade vai comprometer as investigações?”
Resposta: “Acho que sim, […] as perícias têm que ser feitas são extraordinariamente complexas e morosas. Facilmente estes prazos se esgotam.”
Admitamos que a transcrição é exacta,
Então a entrevistada mistura sistematicamente alhos com bugalhos, quando se lhe pede para falar sobre segredo de justiça ela fala de prazos?...
Admitamos que a transcrição não é exacta,
Houve um erro involuntário na transcrição e a jornalista acaba de demonstrar involuntariamente na prática, que prazos curtos para a execução das tarefas podem conduzir à má qualidade das mesmas.
Acontece: Uma das possíveis causas para os Erros involuntários é a distracção. Ficamos no entanto perplexos com uma distracção que ocorre num tema que é especificamente seleccionado para título do artigo.
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