Famílias com desempregados vão ter redução de 50 por cento na prestação da casa dizem a RTP e o Público. Menos 50 por cento no empréstimo à habitação, anuncia Sócrates no debate quinzenal diz o Diário IOL.
Impressionante, que ajuda fantástica!
Mas nos textos aparece uma expressão curiosa: "moratória nas prestações de crédito à habitação". Segundo o dicionário, moratória é uma dilação de prazo para pagamento de uma dívida. Ou seja, hoje pago 50 em vez de 100, mas mais cedo ou mais tarde vou ter que pagar os 50 que faltam. E a isto chamam os jornais uma redução... Estou a imaginar o Pingo Doce a anunciar "Redução de 50% nas alcachofras em lata", mas na caixa dizem-nos "para a semana paga o resto, 'tá bem?"
Adenda: claro que no período em causa há uma redução, mas ela é temporária e não absoluta como os título dão a entender. Basta ler os comentários às notícias para perceber que foi assim que os leitores interpretaram.
A taxa de inflação atingiu o valor mais baixo dos últimos dois anos, dizia-se no Telejornal da RTP, citação (actualizada) literal.
Será que há 2 anos era inferior? Não!
A questão é que o relatório de hoje do INE só tem uma tabela com os últimos 2 anos!
Se o jornalista se desse ao trabalho de ir ver a página do INE, verificaria que não há nenhum valor inferior para a inflação nos dados que lá existem, ou seja desde 2002. Algo como 1 minuto de trabalho.
(Se a notícia fosse negativa, lá se diria que foi a "pior inflação de sempre", sendo que o "sempre" normalmente significa "até à data a que me dei o trabalho de verificar". Exemplos disso não faltam aqui no blog.)
Se o jornalista se desse ao trabalho de verificar o Eurostat (que só tem o HIPC, um índice muito próximo, mas diferente do IPC), verificaria que só em 1998 houve uma taxa de inflação inferior. Outro penoso minuto de trabalho.
Pondo a questão de outra forma, se não foi verificado o valor mínimo (e eu não estou de modo nenhum a dizer que deveria ter sido feito), por que é foi inventado aquele pormenor do "mínimo desde há dois anos"?
A inflação é a variação dos preços, não é uma média/índice de preços. Tal como a velocidade é a variação da nossa posição. Eu posso ir a 140km/h e abrandar para os 120km/h que não deixo de me afastar do meu ponto de partida. Assim a inflação pode subir e descer, mas desde que seja positiva, os preços estão sempre a subir.
No Telejornal da RTP de ontem dizia-se "os preços voltaram a subir, atingiram o valor mais elevado desde há dois anos", querendo com isto dizer que há dois anos ainda estavam mais altos. Ora isto não é verdade, em termos homólogos os preços nunca pararam de subir e em termos mensais creio que houve uma ou duas excepções. A taxa de inflação, essa sim, está ao nível mais alto desde há dois anos.
Paulo Jerónimo dizia ontem na RTP que o novo automóvel a hidrogénio apenas emite vapor de água, e que portanto não prejudica o ambiente. Ora o hidrogénio não aparece no tanque por magia, é necessário produzi-lo por hidrólise, o que implica um custo grande de energia eléctrica.
Coloco assim algumas questões:
- Nenhum dos electrodomésticos que tenho aqui em casa emitem seja o que for. Será que esbanjar electricidade "não prejudica o ambiente"?
- Por que será que há tanta campanha ambiental para poupar energia, para trocar as lâmpadas antigas por umas economizadoras?
O Público diz mesmo que em termos de emissões de carbono, o novo automóvel até pode ser pior. Eu certamente não sei se é mais se é menos, apenas sei uma coisa: emissão zero como o Paulo diz, não é de certeza.
Os maquinistas da CP estão a fazer uma greve às horas extraordinárias, afirmando os sindicatos que a adesão está próxima dos 100%. A RTP dizia agora que os números da empresa contrariavam este sucesso. Até aqui tudo bem, e tudo habitual.
Como "prova" contra os números dos sindicatos, a RTP mostrava em directo os comboios a funcionar na estação do Rossio e dizia que dos 500 e tal comboios planeados apenas 30 e tal tinham sido cancelados.
Provavelmente a RTP não está a par da definição de uma "greve às horas extraordinárias", por isso eu explico. De acordo com o contrato, o trabalhador deve trabalhar - por exemplo - 40 horas, mas na realidade o empregador põe-no a trabalhar 45 horas, mais cinco do que o acordado. Greve às horas extraordinárias significa não trabalhar nessas 5=45-40 horas. Logo uma adesão de 100% implica que apenas uma pequena fracção (11,11% como diria um jornalista "rigoroso") do funcionamento é afectado.
Para os lados da Marechal Gomes da Costa, as saudades do calor são tantas que Alexandre Brito resolveu alterar "ligeiramente" as informações que lhe foram dadas pelo Instituto de Meteorologia. O Presidente do Instituto de Meteorologia disse à Antena 1 que "Temos efectivamente uma probabilidade de o Verão ser ligeiramente superior, em termos de temperatura, à média dos últimos 25 anos". E o que é a RTP resolve escrever no título? "Este Verão poderá ser o mais quente dos últimos 25 anos". Eu diria que sim, é verdade. Pode ser que sim. Mas, sendo que a informação que lhe foi prestada era que a temperatura deste Verão poderia ser LIGEIRAMENTE superior à Média dos últimos anos, eu não teria muitas esperanças.
A propósito de uma subida de 3 cêntimos no preço da gasolina, uma jornalista dizia há pouco no Telejornal que "nós fizemos as contas".
Suspense....
"Encher um tanque com 50 litros vai custar mais 2 euros".
Eu não sei se a jornalista não sabe fazer 3 vezes 5, ou se estamos perante mais um dos diários casos de "arredondamentos à bruta para cima" para dar um toquezinho de sensacionalismo.
Nota: este é mais um caso em que o erro é insignificante, ninguém dá atenção aos 2 euros. Não estou a querer ser mesquinho, apenas questionar o que leva a jornalista a não dar o resultado certo que estava mesmo ali à mão.
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