Sexta-feira, 3 de Outubro de 2008

Não proporcionalidade dos votos nos EUA

Os media têm cometido este erro vezes sem conta ultimamente (e não serão só os portugueses!). Por exemplo, o Diário Digital diz que "Três em quatro sondagens dão vitória a Obama", mas o que acontece na realidade é que 3 em cada 4 dão mais intenções de voto a Obama. Basta recuar até à penúltima eleição para perceber que as coisas não são lineares. Al Gore teve mais votos... mas foi George Bush o eleito.

E não é preciso ser uma coisinha pequenina, pode acontecer que o vencedor tenha menos 10 pontos percentuais.

 

P.S. Existem sondagens onde é mesmo a probabilidade de vitória que está em causa.

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publicado por Miguel Carvalho às 15:59
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Segunda-feira, 3 de Março de 2008

Sondagens? Acho que tem a ver com eleições, não é?

Para lá do erro habitual das percentagens (quando o PS desce de 38,1% para 36,1% não desce 2% como diz o jornalista, desce sim 5% ou dois pontos percentuais) o Diário Digital traz uma palermice nova sobre sondagens:

"A subir estão também as intenções de voto no Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva". Ena, há eleições presidenciais e eu nem sabia. Aparentemente o Cavaco tem 62% de intenções de voto.

"José Sócrates [regista] nova quebra (...) nas intenções de voto, surgindo, em Fevereiro, com 29,8%"
"Tendência idêntica apresenta Luis Filipe Menezes, líder do PSD (...) apresentando agora 21,9% de intenções de voto"
Olha, o Sócrates e o Menezes também são candidatos! Que raio, não sabia de nada... Mas espera, as percentagens somadas dão mais de 100%! Será que o jornalista nem sabe distinguir intenções de voto da percentagem da população com uma avaliação positiva dos políticos?
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publicado por Miguel Carvalho às 21:06
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Sexta-feira, 29 de Fevereiro de 2008

Quando mete sondagens, sai disparate

Comento o texto do Paulo Martins no JN, por ser o mais completo e onde a sondagem foi publicada.. aliás os outros são geralmente cópias dos mesmos disparates.
1. PS, PSD e PP descem, PCP mantém-se. Apenas o BE sobe, mas sobe apenas 4pp ou seja bem menos do que as outras descidas. Da última vez que vi umas eleições a soma das percentagens ainda dava 100%... Ou o PCTP-MRPP disparou para os 7% ou 8% ou Paulo Martins está dizer-nos que nas próximas eleições a soma vai ficar abaixo dos 100%.
2. O que parece mais óbvio (como sempre não posso confirmar porque o JN online não tem a ficha técnica) é estarem a ser analisados os resultados em bruto, o que é errado por várias razões, como o facto de comparações entre meses deixarem de fazer sentido. Sendo assim, o Paulo mete outra argolada quando diz que os 39% do PS estão longe da maioria absoluta. É que descontando os indecisos, este valor seria bem mais alto. (P.S. não fiz as contas e logo não estou a querer dizer que o PS está perto da maioria absoluta, apenas a afirmar que não faz sentido pegar no 39% para fazer esta análise)
3. Diz o Paulo "Como o trabalho de campo desta sondagem teve lugar quase um mês após a remodelação governamental, que resultou no afastamento do ministro da Saúde, é legítimo inferir que ela não travou a curva descendente". Não Paulo, isso não é legítimo. Primeiro porque as margens de erro (não publicadas) muito provavelmente são maiores que a variação em causa Segundo porque não interessa apenas quando foi feita este trabalho de campo, mas também quando foi feito o trabalho de campo anterior... que foi há 4 meses! Teria que se comparar com sondagens imediatamente antes da saída do ministro, e em 3 meses pode ter havido muitas variações.
4. "O PSD perde 4%". Não Paulo, o PSD perde 4 pontos percentuais.
5. "Em conjunto, PSD e CDS atingem um score inferior em 4% ao do PS". Também não.. São outra vez 4 pontos percentuais.


Adenda/correcção
O Pedro Magalhães do CESOP da Católica, centro responsável pela sondagem em causa, já tinha respondido às minhas dúvidas no seu interessante blogue Margens de Erro, onde publica o relatório da sondagem. Com os novos dados, posso corrigir/aprofundar o que escrevi em cima, optando contudo por deixar o texto original.
1. A soma dos valores afinal dá mesmo 100%, eu só fui induzido em erro por haver 4pp que desaparecem. A explicação vem da previsão dos votos brancos/nulos que tem um número inesperadamente alto (5%) que não vinha referido na notícia, e de uma estranha série de coincidências nos arredondamentos para baixo.
2. Este meu ponto deixa de fazer sentido. Os 39% são o valor correcto a analisar, e logo o PS está claramente longe da maioria absoluta.
3. a 5. As críticas continuam pertinentes. Por curiosidade, e como eu antevia, a margem de erro é de 2,8% logo maior que as flutuações em causa.
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publicado por Miguel Carvalho às 12:06
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Quinta-feira, 15 de Novembro de 2007

Menezes a subir

Os Factos

A nota atribuída pelos eleitores a Luís Filipe Menezes segundo a sondagem CM Aximage foi de 9,7 em Outubro e 9,8 em Novembro.
Marques Mendes tinha tido 6,6 em Setembro.
Paulo Portas teve 6,5, 6,7 e 7,2.
Jerónimo e Louça têm 10,9 e 9,9 respectivamente.
Número de inquiridos: 501
Intenção de voto bruta no PS subiu de 34,8% para 36,1%.

As Notícias

No CM, texto de Cristina Rita, temos no título "... Menezes Popular". Popular com nota negativa, e com nota inferior a Jerónimo de Sousa e Francisco Louça, que não são referidos??

No CM a notícia diz "Pelo segundo mês consecutivo, a popularidade do líder do PSD continua a subir". Segundo mês consecutivo? Então o homem está lá há um mês? (Eu sei que o texto é vago, e pode argumentar-se que "o líder do PSD" pode referir-se também a Marques Mendes, mas não será certamente essa a interpretação mais comum). De qualquer modo com uma amostra tão pequena uma diferença de 0,1 em 20, além de ser um grão de areia, não é certamente estatisticamente significativa. Não se pode rejeitar sequer a hipótese de a popularidade ter descido. Qualquer pessoa séria diria pelo menos que a popularidade se manteve constante.

Título do DD: "Sondagem: Luís Filipe Menezes é cada vez mais popular". Cada vez mais?? Mais à frente: "A popularidade de Luís Filipe Menezes, continua a subir". Continua? Mesmos comentários que acima.

Se há alguma popularidade que se pode analisar é a de Paulo Portas que parece estar a subir, todas as outras são (julgo eu) estatisticamente constantes. Mas nenhuma das notícias se lembra de referir Paulo Portas.

Diz o CM "isto apesar de as expectativas na actuação do Governo serem negativas: 50,1% dos inquiridos acham que o Executivo está a governar pior" e o DD "mas as expectativas na actuação do Governo são negativas, já que 50,1% (...) acha que o Executivo está a governar pior". Estes 50,1% caem literalmente do céu, já que não há nada no quadros dos resultados que aponte para eles. A palavra "pior" também é curiosa, porque não significa nada. Pior em relação a quê e em relação a quando? O único dado relacionado é a intenção de voto bruta no PS que... subiu!

Por último, um preciosismo sobre preciosismos. Os jornalistas adoram referir números porque dá um tom intelectual, sério e factual ao que escrevem, mesmo quando não fazem a mínima ideia do que significam. Um exemplo são os valores com várias casas decimais, como 5,812% quando a margem de erro é enorme. Ambas as notícias dizem que 43,8% do eleitorado do PP prefere Menezes a Sócrates, mas o número de pessoas inquiridas foram menos de 20!! Se em vez de ter sido a Maria (que prefere o Sócrates) a atender o telefone, tivesse sido o João (que gosta mais do Menezes) este número explodiria para 49% ou algo parecido, o que mostram bem a solidez deste quarenta e três vírgula oito por cento.
publicado por Miguel Carvalho às 11:17
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Terça-feira, 9 de Outubro de 2007

A manifestação e as sondagens

(mais um artigo, desta feita publicado a 13 de Março de 2007 no então 'Economia' do DN pelo mesmo autor, aqui republicado a fazer novamente jus à génese do 'A Pente-Fino')

 

A manifestação contra as políticas PS organizada pela CGTP no passado dia 2 foi considerada "a maior de todos os tempos", reunindo em Lisboa 120 mil pessoas (dados da PSP). No entanto, o Barómetro da Marktest uma semana antes e o estudo da Eurosondagem no mesmo dia da manifestação, revelavam (1) que as intenções de voto reforçam a maioria absoluta ao PS e (2) a enorme popularidade de José Socrates. Existirá aqui, como sugerem algumas opiniões, algum paradoxo? Analisemos então os dois factos à luz dos conceitos de aleatoriedade e representatividade.

A manifestação não é aleatória, ou seja, os manifestantes não foram (e em rigor nem o podiam ser) escolhidos aleatoriamente. A este respeito, há a considerar, entre outros, um problema de auto-selecção, isto é, existem pessoas com maior motivação e em melhores condições (mais tempo, p.ex.) para participar em manifestações do que outras. Desde logo, reformados e desempregados, e ainda os que estarão sempre disponíveis para qualquer manifestação seja ela qual for, seja porque daí retiram algum prazer ou, como neste caso, por fidelidade/compromisso sindical. E a manifestação não é representativa da população portuguesa, activa ou não. Não o é em termos geográficos nem em termos de estratos sociodemográficos. E afectando ambos, claramente, não o é também em termos políticos: foi uma manifestação da CGTP, a Intersindical apoiada pelo PCP.

Quanto às sondagens, apesar da sua suposta garantia de aleatoriedade, esta não é perfeita. Se mais razões não houvesse, tome-se apenas o simples facto de as listas de onde são escolhidos os entrevistados conterem erros. Ou seja, os portugueses não têm todos a mesma probabilidade de serem seleccionados para a amostra. No entanto, parte desta imperfeição nas sondagens é tida em conta no cálculo do erro amostral e na estipulação de um intervalo de confiança. Mas o mais importante é que as sondagens (ou qualquer estudo baseado numa amostra) sejam representativas da população em análise. E à partida não existe razão para se suspeitar que o não são.

Assim, não parece existir aqui nenhum paradoxo. Não, como erradamente se possa pensar, por uma diferença na magnitude dos números, isto é, o facto de 120 mil manifestantes serem uma minoria quando comparados com o total de portugueses, mas por uma diferença no que os números representam. Os manifestantes não são representativos da população portuguesa (nem aleatórios), enquanto as sondagens, mesmo que baseadas num número de entrevistas incomparavelmente menor - cerca de mil -, assentam em pressupostos estatísticos que permitem generalizar os resultados amostrais para a população em causa.

Se deve ou não prestar-se atenção a qualquer um dos factos e quais as ilações que deles se podem retirar, essas são outras questões.

publicado por Carlos Lourenço às 13:35
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Sexta-feira, 28 de Setembro de 2007

Desceu mas...

Sob o título "PS próximo da maioria absoluta", a TSF apresenta o seu barómetro mensal onde.... o PS desce dois pontos percentuais (pp). Confuso? Eu também.
Não é que seja uma mentira, agora não deixa de ser estranho, porque o título leva a acreditar numa ideia (que o PS subiu) oposta aos números apresentados!

É também curioso o enorme alarido que se faz com a comparação de sondagens. O erro das percentagens nesta sondagem é 3,45pp, logo o erro de uma diferença entre percentagens será 6,9pp. Discutir subidas e descidas de 1 ou 2pp é portanto irrelevante.
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publicado por Miguel Carvalho às 15:10
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