Segunda-feira, 9 de Junho de 2008

2+2=5 quando um jornalista quer

Na página 25 da Visão temos um texto não-assinado onde um jornalista trata os leitores como estúpidos e tira as conclusões que lhe dá na gana.

1. Notando que Espanha e Inglaterra ficam abaixo de Portugal no ranking da proporção da população em risco de pobreza, o jornalista deu-se ao trabalho de verificar a definição deste conceito. Ao contrário de muitos dos seus colegas, que tratam o conceito como absoluto, apercebeu-se que não era uma definição independente do país (percentagem da população com menos de 60% da mediana do rendimento) donde conclui (e bem) que Espanha e Inglaterra têm provavelmente situações melhores que a nossa.  Ou seja a nossa posição no ranking tem que ser olhada com cuidado. Curiosamente "esqueceu-se" de concluir também que, exactamente pelas mesmas razões, haverá países que estando acima de Portugal no ranking, poderão estar em situação pior...

2. Apercebeu-se também que não era uma definição estática, que depende portanto do valor da mediana do rendimento de ano para ano. Não se dando ao trabalho de verificar a evolução desta estatística, lembra-se de dizer que "sabemos apenas que, genericamente, em Portugal, o poder de compra foi baixando nos últimos anos". Para lá de confundir rendimento com essa coisa do "poder de compra", fica claro que "genericamente não sabe nada". Se tivesse verificado a mediana do rendimento (desinflacionada pelo HICP) teria concluído que este valor passou de 59,5 em 1996 para 71,9 em 2005.

3. Concluiu então o número de pobres desceu devido a um "nivelamento por baixo"... Já mostrei a patetice no ponto 2.

4. Diz ainda que entre 1996 e 2003 a distribuição da riqueza teve valores melhores do que em 2006. Mais uma vez se não fosse preguiçoso - e bastava ler o resumo do relatório - teria concluído mais uma vez que aldraba com quantos dentes tem na boca, porque em 1998 o valor foi igual a 2006, tendo sido pior em 2002 e 2003.

5. Não existem números para 2007 e 2008, mas ele "sabe" que as coisas pioraram tanto no risco de pobreza como em desigualdade. Quanto a este último conceito diz que "a deterioração do poder de compra da classe média pode ter piorado as coisas de novo". Mais uma vez não sei onde vai inventar esta do "poder de compra" e nem nota no absurdo do que escreve. É que a medida de desigualdade a que se refere nem sequer depende dos rendimentos da classe média!

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publicado por Miguel Carvalho às 09:46
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